terça-feira, 18 de maio de 2010

Rio de Janeiro 14 a 16/5





terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

WORKSHOP - fevereiro/10



http://www.ciajgarcia.com.br/

domingo, 31 de janeiro de 2010

Próximas apresentações

18 a 21/02 (qui. e sex. às 21h, sáb. às 20h, dom. às 18h) no Teatro de Dança. http://www.teatrodedanca.org.br/

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Jorge Garcia evolui e sua obra se destaca

Por: Mauro Fernando



Foto: Silvia Machado
Artigo de 6/11/2009

Jorge Garcia tem 37 anos e quer, por intermédio de sua obra, entender a humanidade e, por extensão, o mundo. Recifense radicado na pauliceia, o coreógrafo afirma partir de coisas que desconhece para aprofundar-se na pesquisa de cada montagem a fim de desbravar, por meio de observações e sensações, as relações que nos entrelaçam e o ambiente em que vivemos.

“Vejo tantas coisas e quero entendê-las melhor. Quando crio é mais para aprender que para falar do que já sei, é por não saber e não por querer explicar”, diz. O que alimenta o artista Jorge Garcia? “Busco a relação com o ser humano. Gosto de estabelecer um universo (de pesquisa) e aprofundar um pensamento. Nem quero saber onde vou chegar.”

Garcia se introduziu no universo da dança aos 19 anos, a partir do forró, da lambada, da salsa. Passou por duas companhias do Recife, a Compassos Cia. de Danças e o Grupo Experimental. Começou a coreografar ainda quando dançava na Cisne Negro Cia. de Dança, na qual ingressou quando tinha 23 anos: Sonho que se Sonha Só, criação independente que assinou ao lado de Laudinei Delgado, Marcelo Bucoff e Paulo Goulart Filho.

Sonho que se Sonha Só entrou em cartaz em 1995 no Centro Cultural São Paulo, pelo projeto O Masculino na Dança. “Fiz muitas parcerias no começo talvez um pouco por insegurança, porém mais pela oportunidade de trabalhar com amigos como Willy Helm.” Parceria, pois, é a palavra-chave. “Não pesquiso sozinho, e sim trocando ideias. O diálogo com as pessoas está presente na minha obra”, revela.

Ao atender a convite de Ivonice Satie em 1996, engrossou o elenco do Balé da Cidade de São Paulo, no qual permaneceu por sete anos. Sua primeira obra (dividida com outros criadores) para a companhia, Baile na Roça, surgiu em 1997, já sob a gestão de José Possi Neto. Depois vieram, entre outras, Divineia (2001, sobre Estação Carandiru, de Drauzio Varella) e R.G. (2006, sobre Radamés Gnattali). Mas não se prendeu ao Balé da Cidade, que não dava inteira vazão à vontade de criar – coreografava para companhias de menor porte.

Fundou com Bucoff o P.U.L.T.S. Teatro Coreográfico em 2000. “Ficamos dois anos juntos. Saía do Balé da Cidade para lá. Foi um exercício diário de criação, pude experimentar um pouco mais”, relata. Em 2002, com Agnaldo Bueno, Delgado, Helm e Osmar Zampieri, criou o Grua – Gentlemen de Rua, que explora o improviso em meio ao público.

Fundada em 2005, a J.Garcia&Cia já traz em seu portfólio quatro montagens: Cantinho de Nóis (2005, sobre a cultura popular), Histórias da 1/2 Noite (2006, sobre Machado de Assis), Um Conto Idiota (2008, sobre a arte do palhaço e o cinema mudo) e Cabeça de Orfeu (2009, sobre a morte).

Garcia procura trabalhar discussões diferentes a cada coreografia, o que sugere uma fragmentação dentro do todo. “Cada trabalho tem um universo tão particular que até tenho dificuldade de falar sobre o conjunto da obra.” Apesar disso, de uma certa maneira uma montagem se conecta a outra: “O ponto principal é o ser humano”.

E não dá por esgotada a pesquisa para um espetáculo. “Sempre estou revendo, refazendo. O ato de mexer na obra é fundamental.” Cantinho de Nóis é de 2002 – antes, portanto, da fundação da J.Garcia&Cia – e passou por uma reformulação para marcar a estreia do grupo, que se deu no Panorama Sesi de Dança. “Cenário, figurinos e cenas foram refeitos.” Um Conto Idiota é uma releitura de Noites de Fortunello (2003, para a Distrito Cia. de Dança) e Cabeça de Orfeu, de Orfee’s Head (que ele desenvolveu em 2007 para a Amsterdam Theater School).

Uma das características mais marcantes de suas criações é a sobreposição de linguagens. “O movimento é pouco para mim, gosto de entender outras artes, outras relações (cênicas)”, resume. Não à toa, cita como referências artísticas Pina Bausch, David Lynch, Lars Von Trier, Wim Vandekeybus e Machado de Assis.

Outra particularidade de suas composições coreográficas é a infiltração do universo popular brasileiro – com o qual convive desde pequeno, no Recife – na dança contemporânea. As manifestações da cultura popular, naturalmente, passam por um filtro antes de ganhar o linóleo. “Você não vê em Cantinho de Nóis passos de maracatu ou xaxado, mas sente esse universo.”

Expandir os limites do palco tradicional é uma tarefa a que ele se propõe. “Embora não descarte apresentações em lugares não convencionais como arena e galpão, digo que o palco italiano tem uma atmosfera que proporciona possibilidades infinitas. Mas sempre tento me moldar aos espaços.”

Novos projetos embalam a J.Garcia&Cia. O coreógrafo anuncia que revisitará Interlúdio (2001, para o Balé da Cidade, sobre a bufonaria) com cinco intérpretes, um a mais que a montagem original. “Está pronto, só esperamos dinheiro para o cenário.” Além disso, um vídeodança baseado no material coreográfico de Um Conto Idiota está em produção – e Cantinho de Nóis embarca para Cabo Verde (África) ainda neste mês.

Garcia, que contabiliza “mais de 30” trabalhos assinados na dança, no teatro, no cinema e no circo, menciona também “um projeto para um grande teatro, com um cenário que tenha um peso grande no espetáculo, com as coisas acontecendo a partir dele”. Take a Deep Breath é o título provisório do trabalho, “que trata da morte mas, na verdade, fala da vida”. A inspiração vem dos livros Felicidade, de Eduardo Giannetti, e Uma Longa Queda, de Nick Hornby.

Filho do ex-atacante Pedrinho, que defendeu as cores do Clube Náutico Capibaribe e de agremiações portuguesas, o coreógrafo revela que na infância se imaginou trocando passes em campos de futebol. “Meu pai achava que eu seria um bom jogador, mas desvirtuei”, graceja. “Mas ele era tão fanático (pelo esporte) que deixava a família em segundo plano. Hoje não torço para time algum, só assisto a jogos da seleção brasileira.”

http://www.conectedance.com.br/materia.php?id=61

Jorge e ela

Jorge e ela

para Jorge Garcia

Jorge não sabe
quem sabe de Jorge é ela
e nela Jorge se perde
no imaginário de se achar.

Mas achar-se é achá-la
pois se Jorge a possui
é por ela gerado.

Cúmplices na ousadia
reféns da utopia
tramam em segredo:
Ouroborus
mosaico
flor da manhã
homem e mulher
mensageiros do pássaro.

Tudo voa no mundo do seu Deus:
o braço que vai
o tronco que verga
o olhar que se alonga
o corpo invisível.

É dança – oração.
Exala o aroma da nuvem
em busca da forma imprecisa
música que pulsa no coração da terra.

Ela acorda.
Jorge ainda dorme
aninhado em suas tranças.
Sonham com o plenilúnio
a sombra das mangueiras
o burburinho na feira de domingo
o chão de terra - o futebol.


Juntos tecem os retalhos do que virá:
roupa sobre roupa até ficar nu
acender velas, soltar amarras, abandonar portos
a procissão dos peixes, o canto das baleias
o céu, com todas as estrelas, visíveis e invisíveis
a vida humana - casar, descasar, casar
a guerra, a paz, a rede perplexa na varanda.

E mais: o sol a pino, o concreto, o cactos,
a prisão, a abstração, o ruído, o suor
o incenso, a alquimia, o riso, a carícia.

Os dois saem pela janela:
- a procissão das formigas
- os liquens colados às árvores
- o menino e sua pipa
- a rua, o bar, a sinuca...

O relicário brilha por onde passa
símbolo do símbolo – Deus é!


Inês Ferreira da Silva Bianchi

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Agenda de Espetáculos - Cabeça de Orfeu

24/10 as 20h Monte Azul
26/10 as 19:30 Céu Azul da Cor do Mar
10/11 as 20h Céu Inácio Monteiro
02/12 as 19:30 Céu Água Azul
18/12 as 21h SESC Ipiranga

sábado, 3 de outubro de 2009











Fotos Erick Diniz - Sansacroma 26/09/09

sexta-feira, 2 de outubro de 2009








Fotos Erick Diniz - Sansacroma 26/09/09

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Próximas Apresentações

26/09 Espaço Sansacroma

03/10 Festival Pés no Chão

10/10 Galeria Olido

maiores informações em breve

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Agenda de Espetáculos - Cabeça de Orfeu

SETEMBRO

10 a 1
3 - II MOSTRA (IN) DEPENDENTE DE DANÇA no
KASULO ESPAÇO DE CULTURA E ARTE
De quinta a sábado às 21h, domingo às 19h. Ingressos R$ 10,00 e R$5,00

R: Souza Lima 300, BARRA FUNDA.
(Trav: da rua Barra Funda, prox: ao Metrô Marechal Deodoro).
Contatos: 11 3825 2711 - 3666 7238 - 9852 7222

A J. Gar.Cia foi contemplada pelo 6º edital do Fomento à Dança - Circulação e Subvenção de Companhia.

Já estão agendas apresentações do espetáculo Cabeça de Orfeu e em breve será a vez do espetáculo Um Conto Idiota. Enquanto isso a Cia está produzindo um vídeo dança baseado no material coreográfico do Conto.
O making of vocês podem acompahar no blog do Conto

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Agenda de Espetáculos - Cabeça de Orfeu

MAIO

09 - Circuito Cultural Paulista - Sertãozinho
16 - Virada Cultural Paulista - Araraquara
17 - Virada Cultural Paulista - Franca
24 - Circuito Cultural Paulista - Pirassununga

JUNHO
06 - Circuito Cultural Paulista - Garça

07 - Circuito Cultural Paulista - Avaré
20 - Circuito Cultural Paulista - Guaira
21 - Circuito Cultural Paulista - Ibitinga

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

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Contemplado pelo 4º edital do Programa de Fomento à Dança da Cidade de São Paulo, o espetáculo Cabeça de Orfeu estreia dia 22 de janeiro na Galeria Olido.

O que acontece no minuto que antecede a morte, quando cenas de toda a vida passam em flashes com num filme, num sonho, em nossa mente, como se fossem revividos os momentos mais importantes da trajetória de uma pessoa. Esse é tema que originou o espetáculo de dança contemporânea Cabeça de Orfeu, que estreia no dia 22 de janeiro, quinta-feira, às 22 horas, na Sala Paissandu, da Galeria Olido. Jorge Garcia assina a coreografia e direção da montagem, que conta no elenco com oito bailarinos de seu grupo, a J.Garcia&Cia – Dança Contemporânea.

O projeto do espetáculo – um trabalho de seis meses de criação e dois de temporada, que foi contemplado pelo 4º edital do Programa de Fomento à Dança da Cidade de São Paulo - também alicerçou sua pesquisa no mito de Orfeu para abordar a passagem da vida para a morte. “Orfeu vai até as profundezas para resgatar Eurídice, morta no dia do casamento. Em sua volta à Terra, ele agoniza depois de perder a cabeça, cortada pelas Bacantes e passa a vagar sem rumo”, explica o coreógrafo e diretor Jorge Garcia.

Inspirado no trabalho-experimento Orfee’s Head , criado para o 2º ano do departamento de Dança Teatro (MTD) da Escola de Artes de Amsterdam (AHK) – Theaterschool em março de 2007, o espetáculo apresenta apenas uma coreografia, interpretada por oito bailarinos - Alexandre Magno, André Graça, Amanda Raimundo, Beto Amorin, Cynthia Domenico, Marina Massoli, Natália Mendonça, Paty Bergantin.

Para contar sua história por meio da dança contemporânea, o bailarino e coreógrafo Jorge Garcia - que esteve por dois anos no grupo Cisne Negro, depois ficou sete no Balé da Cidade de São Paulo até montar sua própria companhia, em 2005 – se apoia em uma linguagem cinematográfica, do ponto de vista dramatúrgico. Destaque para o vigor dos movimentos: “Tem uma fisicalidade forte, mesclando capoeira de Angola com dança contemporânea, sempre com uma teatralidade muito presente”, explica Jorge Garcia.

Entre os elementos de cena, uma TV de LCD de 40 polegadas e uma filmadora para captar as imagens ao vivo funcionam para criar uma ilusão no espectador, “para que ele entre nesse mundo de fantasia. É o brincar com a atenção, a tensão, do público”, comenta Jorge. Enquanto isso, também são projetadas cenas de filmes como Laranja Mecânica e Matrix, além de imagens de Hitler, guerras e até da recente “sapatada” recebida por George W. Bush, presidente dos Estados Unidos.

Composta por Aguinaldo Bueno especialmente para Cabeça de Orfeu, com música atonal e eletrônica, a trilha sonora também é construída por meio de microfones em cena. “Tiramos som das coisas que acontecem em cena, são sons de interferência”, explica.

[VERMELHO+SEM+CABEA4.jpg]

Direção e Coreografia
Jorge Garcia


Assistente de Coreografia

Clarice Lima


Intérpretes Criadores
Alexandre Magno
André Graça (Estagiário)
Amanda Raimundo
Beto Amorin
Cynthia Domênico
Marina Massoli
Natália Mendonça (Estagiária)
Paty Bergantin

Trilha Sonora
Aguinaldo Bueno
Guilherme Chiappetta (Colaboração)
Figurino
Danúbia Costa
Cenário
Fábio Marcoff
Design de Luz
Ari Buccioni

Professores

Capoeira de Angola
Pedro Peu
Pilates
Natália Mendonça
As 12 Ações Corporais
Beto Amorin
Dança Contemporânea
Jorge Garcia
Clarice Lima
Improviso Cênico e Corpo e Contato
Diogo Granato
Jogos Cênicos
Alexandre Magno

Assessoria de Vídeo, Vídeo Imagens e Documentação em DVD

Giuliano Scandiuzzi
Produção Executiva
Andrea Thomioka
Assistente de Produção
Renata Botta
Design Gráfico
Sonaly Macedo
Fotos
Silvia Machado
Assessoria de imprensa
Arte Plural

Duração 70 min
Faixa etária 18 anos

Inspirado no trabalho-experimento ” Orfee’s Head “ criada para o 2º ano do departamento de Dança Teatro (MTD) da Escola de Artes de Amsterdam (AHK) – Theaterschool em março de 2007.

Agradecimentos Renan Costa Lima, Bergson Queiroz, Marisa Bucoff, Cria da Casa Comunicação e Cultura, Guilherme Chiappetta ( Summertime ), Caçamba de Artes
Formandos do ano 2009 do Departamento de Dança Teatro (MTD) da Escola de Artes de Amsterdam (AHK) - Theaterschool




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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

3º Ateliê Coreográfico






Convida você para o 3º Ateliê Coreográfico

CABEÇA DE ORFEU
Contemplado pelo 4º Edital do Programa de Fomento à Dança/
Prefeitura da Cidade de São Paulo / SMC.

O objetivo deste encontro é oferecer informações práticas do processo de produção do espetáculo, receber o feedback dos convidados e estimular o comprometimento do público ao produto final (espetáculo). Nesta 3ª edição, a J.GARCIA&CIA – Dança Contemporânea apresenta o work in progress resultante dos três meses de atividades.
Tópicos para abordagem: Apresentar fontes de pesquisa e laboratórios praticados em cada processo. Explicitar os caminhos percorridos em todas as áreas – coreografia, preparação física, cenário, figurino, design de luz, trilha sonora, produção executiva – a fim de estimular o interesse por todas as atividades de uma Cia de Dança e promover o intercâmbio de informações.

Dia 3 de Dezembro – 4ª Feira
Das 11:30 às 14:30 horas


“Espaço Caçamba de Artes”
Rua Muniz de Sousa, 517 – Aclimação
(Próximo ao Parque da Aclimação)


Inscrições Gratuitas
Interessados devem enviar e-mail de confirmação para:
jgarcia_cia@hotmail.com


Mais informações: 8373.1700 – Andrea Thomioka (Produtora Executiva)
Esta atividade integra o projeto do espetáculo “Cabeça de Orfeu”, contemplado pelo 4º Edital do Programa de Fomento à Dança / Prefeitura da Cidade de São Paulo / SMC.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

2º Ateliê Coreográfico








Convida você para o 2º Ateliê Coreográfico

CABEÇA DE ORFEU
Contemplado pelo 4º Edital do Programa de Fomento à Dança/
Prefeitura da Cidade de São Paulo / SMC.

O objetivo deste encontro é oferecer informações práticas do processo de produção do espetáculo, receber o feedback dos convidados e estimular o comprometimento do público ao produto final (espetáculo).
Nesta 2ª edição, a J.GARCIA&CIA – Dança Contemporânea apresenta o work in progress resultante dos três meses de atividades.
Tópicos para abordagem: Apresentar fontes de pesquisa e laboratórios praticados em cada processo. Explicitar os caminhos percorridos em todas as áreas – coreografia, preparação física, cenário, figurino, design de luz, trilha sonora, produção executiva – a fim de estimular o interesse por todas as atividades de uma Cia de Dança e promover o intercâmbio de informações.

Dia 26 de Novembro – 4ª Feira
Das 11:30 às 14:30 horas


“Espaço Caçamba de Artes”
Rua Muniz de Sousa, 517 – Aclimação
(Próximo ao Parque da Aclimação)


Inscrições Gratuitas
Interessados devem enviar e-mail de confirmação até 13 de Outubro para:
jgarcia_cia@hotmail.com


Mais informações: 8373.1700 – Andrea Thomioka (Produtora Executiva)
Esta atividade integra o projeto do espetáculo “Cabeça de Orfeu”, contemplado pelo 4º Edital do Programa de Fomento à Dança / Prefeitura da Cidade de São Paulo / SMC.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008


cabeça aberta

terça-feira, 4 de novembro de 2008

grama sob os pés




quinta-feira, 9 de outubro de 2008

1º Ateliê Coreográfico



Convida você para o 1º Ateliê Coreográfico

CABEÇA DE ORFEU
Contemplado pelo 4º Edital do Programa de Fomento à Dança/
Prefeitura da Cidade de São Paulo/ SMC.



O objetivo deste encontro é oferecer informações práticas do processo de produção do espetáculo, receber o feedback dos convidados e estimular o comprometimento do público ao produto final (espetáculo).
Nesta 1ª edição, a J.GARCIA&CIA – Dança Contemporânea apresenta o work in progress resultante do primeiro mês de atividades.
Tópicos para abordagem: Apresentar fontes de pesquisa e laboratórios praticados em cada processo. Explicitar os caminhos percorridos em todas as áreas – coreografia, preparação física, cenário, figurino, design de luz, trilha sonora, produção executiva – a fim de estimular o interesse por todas as atividades de uma Cia de Dança e promover o intercâmbio de informações.

Dia 15 de Outubro – 4ª Feira
Das 11:30 hs às 14:30 hs

Espaço Caçamba de Artes
Rua Muniz de Sousa, 517 – Aclimação (Próximo ao Parque da Aclimação)

Inscrições Gratuitas
Interessados devem enviar e-mail de confirmação até 13 de Outubro para: jgarcia_cia@hotmail.com

Mais informações:
8373.1700 – Andrea Thomioka (Produtora Executiva)

Esta atividade integra o projeto do espetáculo “Cabeça de Orfeu”, contemplado pelo 4º Edital do Programa de Fomento à Dança / Prefeitura da Cidade de São Paulo / SMC.

"minha vida passando..."

Tudo aconteceu tão depressa! Demorei certo tempo pra me recuperar do choque.
Aos poucos compreendi que havia trombado com algo bem maior que eu. Depois do susto percebi que tinha acabado de me estatelar com uma árvore!
Então comecei a olhar ao redor pra saber afinal pra onde é que tinha ido parar.
Reparei que bem lá na frente, em cima de um morro havia uma casa. A janela estava aberta e avistei uma pessoa lá dentro. Era uma mulher que se mexia bem pouco.
Tentei me aproximar da casa, havia algo ali que me parecia familiar, mas não conseguia me mover até lá. Um campo de energia, uma "força estranha..." que impedia de me aproximar.
Então fiquei parada por um tempo só observando a cena. Consegui ouvir um som, acho que um rádio que tava um pouco fora de sintonia.
Olhei bem fundo nos olhos daquela mulher e me surpreendi porque ela tinha o rosto da minha mãe! Em questão de segundos sua feição havia se alterado, seu rosto derretido e então o meu rosto estava lá! Mas como? Será?
Mais uma vez a imagem do rosto dela se desfez ali, bem diante dos meus olhos.
Ela estava só e quando se mexeu consegui observar que passava roupa. Havia uma pilha de roupas bem coloridas na tábua – que se destacava do resto da casa, mais escura e monocromática.
Tinha uma luzinha pendurada em cima da cabeça dela. Tive a impressão de ela estar lá sozinha por bastante tempo... e lá estava ela – o clima era de suspensão . E lá estava eu – era como se tivesse entrado num outro tempo, outra atmosfera, mais densa... às vezes meus ouvidos tapavam e aquela mulher que parecia ter perdido toda ação nervosa...e lá estava eu... era tudo sileeêncio, vaaasto, enooorme, infinito.
Mal conseguia me mover, via tudo do outro lado – ainda abraçada à árvore percebi que atrás de mim tudo parecia inalterado: a cidade, os carros, as pessoas..., tudo estava como antes... como se aquela cena - a árvore, a casa, aquela mulher, a luz, a fumaça, o instante... tivesse acontecido pra mim, só pra mim...foi quando fechei os olhos, respirei bem fundo e me soltei da árvore...

Marina Massoli
Agosto 2008

domingo, 28 de setembro de 2008

Morte minha querida..

Morrer sem preconceitos e sem arrependimentos.
Morrer bem, saudável, com luz e paz.
Morrer no momento melhor para a minha vida.

Ter os que amo no adeus e no olá, quem amo desde os meus amigos de infância, aqueles que não vejo á muito tempo, aqueles que deveria me encontrar, a todos os meus amigos, a minha família toda, pai e mãe, filho, irmã, cunhado, sobrinho e sobrinha e sobrinha neta,tios e tias, avós e avôs, fazer um curta metragem no mundo dos sonhos de título de Regresso ao Passado Presente Futuro.
Arco-Íris, são as minhas cores, da natureza, dos animais, das montanhas, rios e mares, céus, estrelas, a cada detalhe do Universo no qual eu habito.
Muitas emoções, sentimentos, alegrias, as músicas da minha vida sendo a escolha a cargo da minha pessoa antes de morrer, músicas de improviso, de amigos e familiares, rituais, trovões, sim trovões, sol, pássaros, pregões, de uma bola, da bola, bola, galhos e animais.
Não fechando em nenhum quadro definido, vários enquadramentos, experimentando, estudando, imagens, belas imagens, fotos, momentos.
Morrer com o espírito, coração cheio de alegria por ter vivido na mesma época que o meu Mestre Daisaku Ikeda viveu, obrigado Sensei, com a convicção de que na próxima vida lutarei em prol da paz mundial junto com o Sensei Ikeda e todos os meus companheiros.
Sons, imagens, cores, palavras, textos, simples, pequeno e eterno, dentro de uma intensidade, grandeza e gratidão ás vidas que fizeram parte da minha pois elas enriqueceram, deram sentido, mudaram o rumo, obrigado, até breve. Agora se eu fizesse ou desenhasse um quadro, caso eu tivesse capacidade de desenhar, mas desculpa, quem disse que eu não tenho, porra tenho duas mãos e só preciso de uma, o meu quadro seria hoje assim amanhã não sei:
Cores: branco, preto, vermelho, verde, amarelo, azul, violeta, amarelo, rosa, laranja, opa amarelo 2x é influência Brasileira, as cores em alternância.
Som: como sou eu que decido, uma só faixa (de quantos minutos ou horas, dias forem necessários) tivesse clássica, rock, funcky, soul, fado, percussão, eletrônica, samba, natureza, cordas e sopros, e vários instrumentos étnicos.
Palavras: Fernando Pessoa e Amália Rodrigues.
Imagem: céu de Lisboa.
O que eu diria: Mãe, Pai, irmã, filho, didi, gui, Sara, Miguel, Miguel Alexandre, Beatriz, Carlos, avós e avôs, tios, tias, primos, primas e amigos, obrigado por terem feito parte da minha vida, espero que estejamos juntos na próxima vida, sem nenhum sentimento de apego, mas sim o grande prazer e privilégio.
O quadro: todo de bom, memorável, mágico, de causar saudade, de chorar, que nem eu mesmo me recordo que eles existiram alguma vez, locais, espaços, cidades.
Muito obrigado, amo todos vocês, amo e amarei. Obrigado.

PS. Resumindo gostaria de morrer dançando, cantando, agindo como um Palhaço.

Alexandre Magno
10 e 11/03/2008

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

petit hommage directement du musée d'orsay

orphee de gustave moreau en sculpture de rodin avec petit assitent sans tête et les bras

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Quanto pesa a sua cabeça?

Eis a questão. Cabecinha ou Cabeção?

Beto 4 kg
Alexandre 3,6 kg
Marina 3,5 kg
Clarice 3,4 kg
Cynthia 3,3 kg
Natália 3,3 kg
Amanda 3,25 kg
Jorge 3,2 kg
André 3,2 kg
Pati 3 kg

sábado, 30 de agosto de 2008

cabeça nas nuvens

cabeças que formam cabeças que são corpos


Air, nuvens , movimento rápido e a câmera parada.
tem a ver com o último vídeo-dança da Cynthia.
Patrícia Bergantin com indicaçao do Pennino

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O menino Kiron descansa no hospital de Jessore

Um bebê com duas cabeças, colocado sob proteção policial pela curiosidade que despertou, nasceu na última segunda-feira, de cesariana, na região sudoeste de Bangladesh.
Cynthia Domenico

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Pensamentos soltos

Abro os olhos e penso: parece que há algo em comum nas vivências daqueles que acordam após uma pré-morte:

- o reconhecimento da situação em que se encontra, retratado por um embaço da vista até se chegar à nitidez`.

- a busca na memória imagética (sempre em fragmentos) do que aconteceu, da derradeira lembrança, do último quadro antes do apagão.

Passa-se então por flashes de memória, à princípio desconexos, e talvez ao longo da narrativa esses fragmentos encontrem uma linearidade.

Será que percorremos toda nossa memória em apenas um minuto? Como se naquele minuto tudo fizesse sentido, porque construímos ou encontramos o fio da meada.

- A oposição do que se move e aquilo que está inerte. O que lembra está inerte, com os movimentos roubados ou tomados pelo fatídico acontecimento. No entanto em suas memporias há muito movimento.
Dessa relação de oposições ainda na busca pela total compreensão dos fatos há uma combinação quase que imperceptível entre imaginação e memória. Não sei bem se a palavra correta é combinação, talvezhaja uma mistura entre esses dois funcionamentos da mente. Mas o interessante é que dessa mistura entre imaginação e memória surge o onírico.

Talvez na ânsia de se encontrar esse sentido - que não existe em absoluto na natureza, o onírico crie um nexo para as lacunas da razão.

Sonho que matei um cão e o abracei, para explicar o sangramento no meu estômago do próprio acidente que sofri ( via láctea).

Cynthia
Domenico

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Morte

Será que consigo? Para mim o fato morte ainda é inaceitável. Até então não encontrei a crença que me ajude a superar esse pavor e me convença que realmente existe a luz no fim do túnel. Passo a partir de agora, refletir com muita estranheza sobre tal assunto, me colocar diante dela, enfrentá-la, me despir de tudo que sou, ter remorsos, angústias, sentimentos dolorosos, depressão, fragilidade e insegurança. Observo minha mente. Busco imagens racionais do momente que antecede a morte, com a imaginação lúcida, descrevo um caso real, tentando entender o sofrimento que passam mais de dez milhões de pessoas por ano no mundo, onde cerca de 50% dessas, morrem.
No ano passado, fui buscar o resultado de um exame, desses de rotina. Descobri que tenho um tumor malígno. durante seis meses fiz várias sessões de quimioterapia que ajudaram a reduzir bastante o tamanho desse tumor, isso era o que dizia o médico depois de vários exames, e disse ainda que com uma cirurgia o caso estaria encerrado.
Chegado o dia, não pude ver nada, pois me fizeram dormir. Acordei já num quanrto com o médico a me falar com muita franqueza:
_Olha! Durante a cirurgia podemos observar a situação e vimos que já era tarde demais, o tumor se espalhou por todos os orgãos em sua volta. Não há nada que possa ser feito! Eu lamento muito!
Ainda meia alucinada com os sedativos, fingi não ter entendido aquilo, mas as palavras começaram a fazer sentido e a única coisa que consegui concluir era que meu fim estava próximo.
Por que eu? Por que assim? Não quero agora! Alguém me ajuda! Não existe remédio? Tratamento?
Pai! Mãe! Amor! Alguém me ajuda!
A primeira coisa foi imaginar que era tudo um pesadelo, mas a verdade estava estampada nos olhos de meus familiares, que não podiam conter o choro. Alucinações, perturbações e medo, muito medo! Mesmo na presença deles, minha dor era tão grande que se tivesse forças me jogava da janela e acabava com tudo de uma só vez, mas como minha vontade ja não se fazia valer, aquela noite foi longa, a tempo de me recordar de todos os momentos felizes e marcantes de minha vida.
Lembro-me que na infância tinha muitas dores nas pernas e que médico algum sabia diagnosticar a causa daquelas dores, ela aparecia sempre à noite e eu só dormia quando meu pai colocava minhas pernas entre as suas e as esquentava. Já minha mãe me acompanhou em meus primeiros dias de aula, ficou ao meu lado durante semanas até que me acostumasse a nova situação. Com meu irmão brincava até tarde na rua com as outras crianças.
Até que comecei a dançar, penso que foi a realização de meus pais. Todo fim de espetáculo estavam lá, os dois, em pé e com os olhos úmidos. Espera! Pra onde estão me levando? Sinto uma forte dor! Porque não me escutam? Esperem! Ainda nem lembrei de meus momentos mais felizes! Meus sonhos, mal pude realizá-los. Nem disse o quanto eu os amo! Não! Tenho que vê-los uma última vez! Só mais uma! Pra onde vou? Espero ficar bem! Por que me olham assim? Não sinto meu corpo. Está tudo escurescendo!

Amanda
Raimundo

O que não era

(Ouve-se uma gravação com nomes de diversas profissões continuamente)
Não me lembro como cheguei até aqui. (Pausa)
Também não sei quanto tempo faz que estou aqui. (Pausa)
Muito menos onde é aqui.
A única coisa de que me lembro é que vim sozinho. Mas como vim? De onde vim? Onde estava antes daqui? Estaria mesmo em algum lugar? E aqui é um lugar? Eu era alguma coisa? O que fazia antes?
Ai, que estúpido! Acho que não estou mais vivo! È só isso!Sempre ouvi falar nessa estultice de almas que vagam sem saber onde estão, nem que são e... E quando vivas, sabiam quem eram? O que queriam? Eu sabia o que queria? Sabia o que não queria, o que não queria vir a ser. Parece coerente, agora sei onde não estou. Num corpo. E muito menos no meu conhecido parceiro. Mas, paradoxalmente, continuo sentindo a mesma vida pulsando dentro de mim. É, a vida não depende de invólucros.
Ok, não estou vivo! Mas como perdi a vida? Se é que se pode perdê-la. Não sinto que sofri alguma perda, alguma derrota. Não, definitivamente, eu não me entreguei. Sempre me estimulei pela competição, não iria jogar a toalha. E além do mais, tenho horror a corte, machucado, sangue. Disso me lembro bem. Um trauma mesmo e acho que se tivesse morrido assim tinha me currado. E nesse exato momento, só de imaginar um filamento sequer de sangue, já sinto uma tontura, um mal estar, que agora sei que não era meu corpo que sentia.
Também não morri muito jovem, pois lembro do meu pai me levando leite de vaca fresquinho na cama, com o chocolate borbulhando na espuma; lembro das cores vibrantes do acrílico dos meus jogadores do futebol de botão; do meu vira latas me acompanhando e assistindo, comportado da arquibancada, meu treino de basquete; do meu primeiro beijo que a embriaguez da irmã mais velha do meu melhor amigo me brindou; da embriaguez de todos os sentidos no carnaval de Olinda; de uma gruta de granito esculpida pela água no interior de uma caverna...
Mas não tenho nenhuma lembrança da idade ter-me trazido sabedoria. Será que o Alzhaimer me roubou o saber e o sabor da vida? Talvez...
Não tive um funeral com honras de estado, mas também não acho que tenha ido pra uma vala comum.
Também acho que não morri de desgosto, saudade, tristeza, depressão... Nunca tive inclinação pra tal. Sempre que tentei reter alguma melancolia para tentar entender algum movimento interior meu, fui resgatado por coisas belas e singelas. Um sorriso apaziguador, uma forma inesperadamente harmônica, um gesto de atenção...
Meu Deus, será que eu era brega assim mesmo? E esse ‘Meu Deus’ tem eco em mim ou é um vício de linguagem? E alma tem vício de linguagem? Será que eu tinha alguma idéia de Deus? E será que eu tinha alguma coisa? Ou era alguma coisa? Será que eu era eu? Eu fui eu? Ah, me lembrei de umas pessoas dizendo que eu tinha sido bom. Mas será que falavam por causa deste estado do ser ou do próprio ser naquele estado?
Nossa, como me expresso de maneira pomposa! Se me expressava desse jeito não me lembro se assim conseguia me comunicar. Será que consigo descobrir algo de mim justamente através dessa maneira de me expressar? Será que o fato de pensar assim já não é um indício de que tinha alguma formação, alguma informação, alguma deformação? Ou será que quando se chega aqui zera tudo? Ou potencializa tudo? E fica todo mundo letrado? Letrado e não numerado? Será que ficamos todos sábios com os celestiais bônus por termos cruzado com galhardia os umbrais da vida?
Ai meu deus, de novo! Tô começando a pensar que eu era escritor de auto-ajuda. Ou pior, letrista de música gospel.
(Pausa. Sobe o volume da gravação e ele vai dizendo ‘Não’ após cada nome de profissão.)
Isso! Não era cantor. Não era músico. Não era médico, nem médium. Não era cientista, nem cientologista. Não era poeta, nem profeta, nem protético. Não era juiz, nem jagunço. Não era cavaleiro, nem coveiro. Não era psicanalista, nem pecuarista. Não era catador, nem lutador. Não era mímico, nem químico. Não físico, não fisiatra. Não bombeiro, não babá. Não era.
Não sou mais o que não era.
Não sou.
Tô morto! Assim, seco! Acho que acabei de morrer como vivi, de maneira direta.
Não ouvi as pessoas falando comigo e eu, angustiado, sem poder responder.
Não flutuei, incrédulo, sobre meu corpo estendido sobre um leito.
Não atravessei nenhum túnel.
Não vi uma seqüência de cenas emblemáticas da minha vida como num filme numa velocidade estonteante.
Não encontrei meus familiares e entes queridos me esperando calorosamente.
Não fui julgado por nenhuma das minhas inúmeras faltas relevantes.
Não tive minha fagulha divina incorporada ao grande sol central.
Não descansei, muito menos em paz.
Não senti nenhuma paz beatífica invadindo meu ser.
Não fiquei aliviado de nenhum peso, físico ou metafísico.
Não tinha sete mulheres me esperando, quiçá virgens.
Não tive uma paternal acolhida nos braços de Tupã.
Não me sinto estafado como após uma grande viagem.
Não fui ofuscado por nenhuma luz, nem virei purpurina.
Não recebi as chaves de São Pedro.
Não vim para uma melhor.
Simplesmente findei. Como finda uma samambaia, um carrapato, um peixe decorativo ou um bicho do pé.
Agora sei, a grande apoteose da experiência mística não é morrer.

Beto
Amorim

PAN!

PAN! [Música distorcida, estridente e irritante]

Estado Zero. De repente se inicia uma inundação de calor muito intensa. Uma ardente crescente e muito forte. Isolo minha cabeça e tenho uma profunda sensação de mergulho denso e pesado em um mar de tinta infinito. Ploft plooff. E que de tão infinito se fecha, e concentra todas suas energias dentro da minha cabeça. Que louco! Esse pedaço de corpo aqui em cima virou um microcosmo e ahhhh dói! Dor de bigorna, de líquido-lama, de densidade mil. Uma dor gorda e aguda. A cor não é vermelha nem preta, mas branca! Branco-ai, branco-lâmina, branco-desliga-essa-luz-que-a-dor-de-cabeça-não-suporta-mais. Sons, muitos sons, ruídos, música alta e incompreensível. Mistura de sons dinâmicos, lentos, lineares ou não. Tudo ao mesmo tempo de cima pra baixo de baixo pro lado pra cima pra trás do lado pro chão tontura pra frente que tromba do meio e dói pro lado pra trás que cai e cai de novo e levanta e cai. Meu corpo não entende mais nada e se libera da compreensão, se solta e esfria o sentido. O primeiro sentido, o tato.
Cheiro de pólvora. Eu já vesga de tanta tontura sou invadida por um estranho e vertiginoso aguçamento de sentidos, pelo menos dos que sobraram. Talvez uma tentativa instintiva de agarrar com os dentes os tais que ainda tenho. Engulo uma gordurosa porção de sangue e saboreio um gosto vivo como nunca havia experimentado. Meu cérebro está a milhão e cada enérgica referência externa, ainda singelamente observada, é refletida feito um raio de choque radiante diretamente pra dentro da minha cabeça. Tudo, tudo confusamente e simultaneamente vivido. Minha respiração é ofegante e cada pedaço de ar inspirado é como se queimasse os meus pulmões de vida. Esse resto de vida perturbante.

Os sons que restaram vão gradualmente se distanciando, a dor de cabeça amenizando, longe, loooooonge... Aos poucos tanta informação sensorial vai entrando em uma velha vibração, e eu em outra. Mas eu quem? Se eu não to mais ali, quem tá lá? Indo pra onde? Como assim minha mente não tá mais falando, e pior, nem tampouco sendo falada?! Por um instante sinto uma paz desconhecida, ainda encoberta por receio e estranhamento. Quero voltar. Ó eu ali! Eita, mas eu to aqui! Eu sou aquilo ali ó! Meu corpo! Eu! Quero voltar!! Mas, hm, é uma sensação tão gostosa. É como se voasse... E de tanto medo desse incógnito acabo transformando receio em aceitação, em permissão. E vou. Indo, iiindo... O gerúndio parece eterno e o estado atemporal. Tudo acontece agora, não há passado, nem futuro. Enquanto vou, a máscara fica. Me projeto pra fora enquanto desmascaro. Uma máscara? Muitas? Quais são as faces que vestimos durante a vida? De medo, alegria, desconfiança, de bravo, esnobe, de careta, de choro, de susto, de vítima, de sóbria... de quem? Uma, duas, todas lá ficaram. Se Machado de Assis experenciasse isso, se sentiria incompleto, sem metade da laranja. No entanto eu não. Ao contrário, me sinto mais plena do que nunca. Achei estar perdendo minha consciência, mas estou me desligando da mente, isso sim. E a consciência está despertando. Seria o ego que ficou lá embaixo? Nossa! Morrendo pra vida! Sem mais filosofadas permaneço sendo. Estou indo, indo...

[ssshhh; som da circulação; gradativo]

Fora do meu corpo e ainda aqui, me sinto plumante, flutuante. Uma mistura de malemolência-capoeira-amortecida com o corpo que é pena, onde não há mais gravidade, e que não tem mais forma. Não é mais algo, algum conceito, simplesmente é. Agora vendo inerte o outro ali embaixo, reconheço esse novo corpo... sinto. Não penso mais. Julgamentos não passam mais pela minha mente e a interiorização se recheia de paz e equilíbrio. Silêncio. Me sinto grande, tenho uma sensação do todo. Percebo. Parece que tenho várias camadas de energia que me expandem. Alegria! Sorrio e cada instante é docemente eternizado. Alegria de ser. Não ser isso ou aquilo, mas ser. Estar. De súbito me sinto sugada pra algum lugar que não sei, sou atraída pelo peito e o famoso túnel-pré-morte surge, mas nada de escuridão. Meu túnel é colorido... Êee! Um mergulho a um espaço-infância! Será que eu to nascendo de novo? Que divertido, vou querer brincar disso de novo depois.
Imagens, muitas imagens. Assisto repentinamente minha vida toda até então. Muita muita informação! Não me sinto confusa, mas as imagens são muitas. Começa lento e vai ficando rápido rápido rápido. Uma música de fundo me conforta e ajuda a compor tanta invasão de pequenos passados. A cada fato novo que se desenrola nesse cinema fantástico, uma voz me pergunta: Valeu à pena? Não há censura nessa voz, apenas uma calma infinita. A voz tampouco fala, mas é inteiramente sentida dentro de mim. Antes mesmo que pudesse refletir a respeito, uma imensa bola límpida é criada em minha volta. Me vejo dentro de uma bolha de espelho! Um espelho de perspectiva cármica que não reflete minha forma, mas tudo o que fui, e, ainda sem julgamento, apenas pra reflexão. Inexplicável sensação essa. Pela primeira vez entendo tudo o que fiz em vida de camarote. A minha visão de fora, mas ainda sendo eu ali dentro.

O espelho se desfaz. Se a consciência fosse uma cebola, a última descascada seria essa. Já mordi, mastiguei, experimentei, cuspi e chorei ela. O que restou foi a essência e basta. Amor. As cores de outrora radiantes e hipnotizantes se amenizam e o cenário agora se pincela de cores suaves. Sempre cores, mas nenhuma agride mais, elas acolhem e indicam um caminho. Se tivesse com meu corpo físico de volta, seria como se estivesse pisando descalça na grama verde e fresca do recém-nascer-do-sol. Paz infinita. Me deparo com algo que simboliza o eterno-e-agora. Não sei bem o que, uma porta, uma névoa, um imenso mar... Como uma encruzilhada, esse portal assinala a fronteira entre passado e futuro. Minha mente pesa por uma última vez e o pensamento que me ocorre é que estamos constantemente condicionados a ‘sermos pensados’ pelo inconsciente a não ser que observemos de fato. Além disso, tenho uma grandiosa compreensão de que o cenário da nossa caminhada em vida nada mais é do que a conseqüência de cada passo que damos. E cada passo lá reflete radiantemente aqui, nesse mundo não-mundano. Vida após vida.


Patrícia Bergantin

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Natálias também choram ou Camelos


Acontece numa sala quadrada com alguns balcões de metal e uma porta de entrada semelhante à porta de refrigerador de frigorífico.
Ao som do terceiro sinal um ser humano entra e é conduzido (não por uma pessoa, mas por uma lógica) até o primeiro balcão.

No primeiro encontra-se uma Natália, sentada num balcão meio alto, visto que seus pés balançam bem longe do chão. Ao seu lado, um camelo cavuca embaixo das unhas dos pés até começar a tirar a pele (não no contexto de quem rói unha, mas no de quem estuda anatomia). Primeiro, no pé direito, é arrancada, dedo por dedo até acabar a sola do pé, em seguida a parte frontal, e ambos chegam ao tornozelo. A partir daí, uma lenta subida até a coxa termina o serviço. No membro esquerdo, tudo acontece em um segundo (tempo em que nascem 4,3 crianças no mundo). E lá está Natália e sua bi coloração. Com seus membros inferiores vermelhos, esponjosos e úmidos.

E logicamente inicia-se a atividade no segundo balcão, onde encontra-se outra Natália em pé, em cima, em posição anatômica. Ao seu lado, outro camelo cavuca embaixo das unhas das mãos até começar a tirar a pele (não no contexto de quem rói unha, mas no de quem estuda anatomia). Primeiro na mão direita, é arrancada dedo por dedo até acabar a palma da mão, em seguida a parte dorsal, e ambos chegam ao punho. A partir daí, uma lenta subida até o ombro termina o serviço. No membro esquerdo tudo acontece em menos de um segundo (tempo que aqueles métodos de beleza levam para tirar os pêlos das pessoas). E lá está Natália e sua bi coloração. Com seus membros inferiores logicamente explicados e agora membros superiores vermelhos, esponjosos e mais úmidos.

E logicamente inicia-se a atividade no terceiro balcão, onde encontra-se outra Natália deitada com as costas em contato com a mesa. Também em cima da mesa, outro camelo cavuca a região dos ombros até começar a tirar a pele (não no contexto de conhecidos tratamentos de beleza, mas no de quem estuda anatomia). Uma única camada é tirada até a altura dos bicos dos seios. A partir daí, é rapidamente puxada até a área perínea em décimos de segundo (tempo que um corpo de peso padrão leva para chegar ao chão em uma queda livre de 5 metros). E lá está Natália e sua bi coloração. Com seus membros inferiores e superiores logicamente explicados, e agora peitos, barriga e púbis vermelhos, esponjosos e molhados.

E logicamente inicia-se a atividade no quarto balcão, onde encontra-se outra Natália deitada com a barriga em contato com a mesa. Também em cima da mesa, outro camelo cavuca a região perínea até começar a tirar a pele (não no contexto de quem passou muitas horas exposto ao sol, mas no de quem estuda anatomia). Uma única camada é tirada, até a metade das ancas. A partir daí, é rapidamente puxada até os ombros, em centésimos de segundo (tempo que um gafanhoto adulto permanece em vôo, saltando 0,5 metros com um ângulo de lançamento de 45°, desprezando a resistência do ar e a força de sustentação aerodinâmica). E lá está Natália e sua bi coloração. Com seus membros inferiores, superiores, peitos, barriga e púbis logicamente explicados e agora ancas e costas vermelhas, esponjosas e encharcadas.

E logicamente inicia-se a atividade no quinto balcão, onde encontra-se outra Natália com as costas na mesa e a cabeça caída em direção ao chão. No chão, outro camelo cavuca a região do pescoço até começar a tirar a pele (não no contexto que melhor lhe convier, mas no de quem estuda anatomia). Uma única camada é tirada até a altura do início do crânio. A partir daí... NÃO!! Definitivamente não é possível que camelos possam tirar a pele da cabeça de alguém!! Como ficaria? Tudo vermelho, esponjoso, transbordando? E quanto tempo levaria? Milésimos de segundo, tempo em que ocorre uma descarga elétrica?! Não... Não pode ser! Inaceitável! Desumano!!
E nesse instante a baba do camelo respinga no chão e, num movimento de repugnância, escorrego, bato a cabeça e morro.

Natália
Mendonça

Morte Minha

Estou passeando no Central Park, numa tarde de outono, dia 22 de Novembro de 2044. Vejo um cavalo atrelado a uma charrete. Belo animal, sempre gostei de cavalos. É preto, tem uma crina ondulado que cai pelo lado esquerdo do pescoço. Nos olhos traz uma luz de fúria contida, como um guerreiro amarrado a uma cadeira. Como um tigre preso em uma armadilha. Como um garanhão atrelado a uma carroça. Não há ninguém em volta, que estranho. O cavalo relincha à minha aproximação, e faz um aceno de cabeça, meio pra esquerda. Olho-o nos olhos, sentindo-me um tanto cúmplice da sua situação de servo. Afago-lhe a testa, o nariz, o pescoço. “Shhhh, cavalo... Tudo bem, ta de boa, tamo junto.” Ele é bonzinho, já virou brother. Noto o pôr-do-sol, que se aproxima, através do reflexo daqueles grandes olhos negros. Lembro do Calango, meu velho pangaré dócil como um cágado. Súbito, alguém atrás de mim, encosta algo pontudo e duro no meu rim direito. “This is a robbery, old man. Gimme all ya got.” Respondo num tom calmo, como em todas as dezenas de vezes que fui assaltado. “Ok, no problem. Relax. I Will now turn around and give you what you want.” Me viro lentamente. “I will reach for my wallet, wich is on the left pocket of my coat.”, e enfio a mão no casaco pra pegar a carteira. O cara bruscamente enfia a mão no mesmo bolso, o que assusta o cavalo, que empina furiosamente e golpeia o ar com as patas da frente, que nem um boxeador meio médio ligeiro. Sinto-me leve. Minha artrite não ta doendo? Minha coxo-femural não ta doendo. Ok, já entendi. Tô fora do corpo. Tô até me vendo. Oloco, o ladrão ta tentando me ressucitar! Desencana, brother, olha rombo que a ferradura abriu na minha cabeça... Peraí, mas eu morri ou não?

Ai, caralho!!

Luz, estrelas, escolha, choque elétrico, escuridão, estou crescendo, água morna, estou morrendo, movimento, barulho, pulsação, didjeridoo, tambura, água correndo, estou crescendo, membrana grossa, está ficando pequeno, me tira daqui, frio, luz, muita luz, estou queimando, deixa eu voltar, que porra é essa, ta seco, gravidade, não me bate, eu respiro, que dor, me larga, quem é você, ahh... mãe!

Banho, manto, peito, leite, amor, branco, sono, escuro, luz, despertar, mãos, dedos, pernas, força, leite, colo, peito, braços, balanço, gorfo, sono, assadura, saudade, amor, não me deixa aqui, obrigado.

Chão, quantas pernas, como eles ficam assim, não dá pra ver a cara de ninguém, não alcanço, vou alcançar, cara no chão, que porrada, de novo, opa! Ah, nem é tão difícil.

Angústia, ninguém me entende, eu entendo mais ou menos o que eles querem, credo que porra difícil, mamama, mama. Papa? Ah, tá... André. Quero isso, quero aquilo, água, peito, mamadeira, doce de leite, mingau de aveia, de maisena, neston, farinha láctea, leite ninho, Sustagen. Dá, tó, meu, seu, dela, larga, caiu, cadê, achou, quantos, onde, quem, eu, você, ele, ela, a gente, auau, cachorro, miau, gato, carro, avião, gande, pequeno, sim, não, livro, cadeira, giz de cera, papel, lápis, caneta, papagaio, moto! Moto peta gandona!

Ninguém gosta mais de mim, é a MINHA mãe! Pai, pra onde você vai? Mãe, cadê o papai? Tava com saudade, pai, não vai mais embora. Não foi, ta sempre aqui agora. Escola, você ta lendo, meu amor! Aula pra superdotado, coisa de idiota, me deixa ser normal, outra escola, outra casa, não me chama de mulherzinho, dou porrada na cara. Não pisa no meu pé, chuto no saco. Gisele, olha pra mim, a Gisele não é loira azeda, eu gosto dela! Outra escola, sou mais novo, mas sou mais inteligente, me encheu o saco dou porrada, sou fodão. Muda de cidade, muda de escola, de novo tudo, mais porrada, mais novo, mais inteligente, mais um monte de coisa, esse muleque é cheio que querer. Oloco, aqui tem um padrão. Karatê, sensei, respeito, não precisa bater em ninguém, você é melhor, eu sou melhor, não preciso bater em ninguém.

Calaboca Luiza, sai Pedro, porra mãe, merda pai, caralho professora, vai todo mundo tomar no cu!
Só a minha guitarra me entende, nem a minha guitarra me entende, ninguém
me entende, eu não me entendo, preciso me entender com alguém, olha tem gente que me entende um pouco, capaz que eles se entendem mais do que eu me entendo, amizade, que coisa foda, não vou perder isso nunca, quéisso, mano, pode contar comigo.

Mulher, preciso de uma, essa aí! Não me quer como, que bosta, que que eu tenho de errado, caralho, me fodi, me fodeu, vai se foder. Foda-se! Essa não, essa sim, essa não, essa sim, ta achei uma. Não, não achei, não me quer, mais uma, vadia. Essa sim, essa não. Essa sim, mas não me quer. Não me quer como? Ah... Aqui tem um padrão... Sussa.

Arte, pode ser um caminho, me reconheço na dos outros, me conheço na minha, crio, sou recriado, malcriado e bem educado. Estudar, estudar a sério, tenho talento, sou fodão. Ah, não... Outro padrão. Arte, arte, arte, respira música, inspira dor e expira arte, porra maluco, isso aí é dança? Achei que dança era chato, tipo balé clássico. Caralho, que merda, tem um veículo melhor que o meu, quero esse trem aí, vou juntar, vou fazer tudo, dança, música, faço os dois, caralho, vou fazer teatro, escultura, tocar baixo, piano, contato, escrever um roteiro, fazer um filme.

Você não pode fazer tudo, André. Posso sim, vou fazer, to fazendo, que se foda odeio regras, não me encaixo nos padrões. Dá uma olhada em volta, você ta negando todos os padrões. Porra de buceta, outro padrão... Tá.

Budismo, meditação, sua mente não é você, você é quem criou a sua personalidade, não se prenda a ela, a ponte com os outros que você sempre sentiu e sempre ignorou é real, vai além de qualquer padrão, transcende seu ego, seu mundinho, o budismo é parte do caminho, a meditação é parte do caminho, a arte é parte do seu caminho, a ponte com os outros é um caminho. Caminho sem forma, não se prenda a regras, não há regras para se prender. Aaaahhhnnn. Saquei.

Tá pronto? Quanto tempo! Lembra de mim? Claro que lembra, claro que lembro. É por aí, você ta no caminho, tropeçou, mas ta achando, agora é a hora, o momento fora do tempo, você vislumbrou isso várias vezes, algumas sem querer, outras procurando, cada vez mais perto mas nunca lá. É agora. Desapega, não tem regras aqui. Você é. Você não é. Não é um fim, nem um começo, é só mais um momento fora do tempo, um lugar fora do espaço, você sempre esteve aqui, e aqui não é nunca. Aqui é sempre. É agora, mas em lugar nenhum.

Que bom, não foi difícil.

André
Graça
























Memento Morri - Trabalho de 2007 do artista Walmor Corrêa
Para ver o site do artista clique aqui


Entrevista com o Artista

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis

Ao verme que primeiro roeu
As frias carnes do meu
Cadáver dedico como
Saudosa lembrança estas
Memórias póstumas

Para ler o livro em pdf clique aqui

O Espelho - Machado de Assis

Esboço de uma nova teoria da alma humana

Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. A casa ficava no morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas, cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora. Entre a cidade, com as suas agitações e aventuras, e o céu, em que as estrelas pestanejavam, através de uma atmosfera límpida e sossegada, estavam os nossos quatro ou cinco investigadores de coisas metafísicas, resolvendo amigavelmente os mais árduos problemas do universo.
Por que quatro ou cinco? Rigorosamente eram quatro os que falavam; mas, além deles, havia na sala um quinto personagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação. Esse homem tinha a mesma idade dos companheiros, entre quarenta e cinqüenta anos, era provinciano, capitalista, inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e cáustico. Não discutia nunca; e defendia-se da abstenção com um paradoxo, dizendo que a discussão é a forma polida do instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança bestial; e acrescentava que os serafins e os querubins não controvertiam nada, e, aliás, eram a perfeição espiritual e eterna. Como desse esta mesma resposta naquela noite, contestou-lha um dos presentes, e desafiou-o a demonstrar o que dizia, se era capaz. Jacobina (assim se chamava ele) refletiu um instante, e respondeu:
- Pensando bem, talvez o senhor tenha razão.


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Quero Ser John Malkovich

O Escafandro e a Borboleta

orfismo

O Orfismo foi um movimento que se desenvolveu a partir do cubismo, tendo uma de suas personalidades-chave na figura do pintor Robert Delaunay (1885-1941).

DELAUNAY (Robert), pintor francês (Paris, 1885 – Montpellier, 1941). A seu ver, o quadro devia ser uma organização rítmica baseada numa seleção de planos coloridos.
Essa denominação foi dada por Guillaume Appolinaire, em referência à figura mitológica de Orfeu, poeta e músico. Talvez Apollinaire quisesse, com isso, referir-se ao lirismo que os orfistas queriam imprimir às formas cubistas.

APOLLINAIRE (Wilhelm Apollinaris DE KOSTROWITZKY, dito Guillaume), poeta e crítico de arte francês (Roma, 1880 - Paris, 1918). Autor de Alcools (1913), Calligrammes (1918), orientou a poesia simbolista para os novos caminhos que já anunciavam o surrealismo. Apoiou os pintores cubistas.

Além disso, orfismo foi um termo bastante utilizado pelos simbolistas. Assim se referiu Apollinaire sobre o movimento “O orfismo é a arte de pintar novas estruturas a partir de elementos que não foram tomados da esfera visual mas foram inteiramente criados pelo próprio artista e por este dotado de plena realidade” “As obras do artista orfista devem simultaneamente propiciar um puro prazer estético, uma estrutura que é evidente em si mesma e um significado sublime, ou seja, o tema”.

A partir daí tira-se a importância do abstracionismo para o movimento. De fato, Delaunay e Frank Kupka, outro importante membro do movimento, estiveram entre os primeiros artistas desse século a utilizarem-se de formas não representativas, buscando pontos de contato entre a música e a abstração pura.

KUPKA (François), pintor tcheco (Opocno, 1871 – Puteaux, 1957). Um dos iniciadores, em Paris, da arte abstrata. Entre os outros pintores que se utilizaram das premissas orfistas, destacam-se: Fernand Léger, Francis Picabia, e Marcel Duchamp.

LÉGER (Fernand), pintor francês (Argentan, 1881 – Gif-sur-Yvette, 1955). Depois de ter participado do movimento cubista, afirmou seu caráter pessoal, executando quadros inspirados na mecânica (engrenagens, pistões, bielas etc.). Pintou também objetos isolados ou reunidos em composições sistematicamente ordenadas.

PICABIA (Francis), pintor francês (Paris, 1879 - id., 1953). Participou dos movimentos cubista e dadaísta, sendo um dos pioneiros da arte abstrata.

DUCHAMP (Marcel), pintor francês (Blainville, 1887 – Neuilly-sur-Seine, 1968). Inicialmente influenciado pelo cubismo, teve depois participação importante no movimento dadá e no surrealismo. Tendo-se fixado nos E.U.A., dedicou-se à "antiarte" e em 1914 criava o primeiro ready-made. Suas pesquisas viriam a exercer influência na "pop-art".

Uma característica marcante do orfismo era a importância da cor. É o próprio Delaunay quem declara: “Só a cor é simultaneamente forma e motivo”.

Tanto quanto o cubismo, o orfismo preocupa-se em combinar figuras e objetos em uma mesma obra. Além disso, Delaunay, por exemplo, foi cada vez mais desligando-se do motivo natural, para basear sua obra em padrões geométricos de cores. Essa busca pelo abstracionismo o aproxima bastante de Kandisky. Os dois artistas chegaram mesmo a trocar suas experiências com o objetivo de fortalecer, juntos, suas idéias. Embora de duração curta, o movimento exerceu grande influência sobre a pintura alemã e sobre o Sincromismo, que veio após.